Manifestantes tentam invadir prédio do Parlamento em Hong Kong nesta segunda-feira (1º) — Foto: REUTERS/Tyrone Siu
Manifestantes cercaram e tentaram invadir, ao menos duas vezes nesta segunda-feira (1°), o prédio do Parlamento de Hong Kong. As tentativas ocorreram horas depois da celebração oficial do 22º aniversário do retorno do território ao domínio chinês.
Os manifestantes usaram barras de metal e um carrinho de ferro para estourar portas e janelas de vidro do prédio do Conselho Legislativo. Eles protestam contra a crescente influência do governo chinês sobre a região.
A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para conter a os manifestantes, que usavam guarda-chuvas e máscaras para se proteger. Os ativistas também jogaram ovos contra as forças de segurança, e os policiais entraram no Parlamento.
Mais cedo, o governo de Hong Kong havia comemorado o 22º aniversário da transferência da soberania do território à China numa celebração oficial em um local fechado, por causa da chuva.
Enquanto a chefe do Executivo, Carrie Lam, participava da cerimônia, milhares de manifestantes bloquearam as três principais avenidas de Hong Kong com grades de metal.
Manifestante tenta estourar porta de vidro do Parlamento de Hong Kong — Foto: REUTERS/Tyrone Siu
Aniversário da transferência para a China
Em 1997, a soberania do território foi transferida do Reino Unido à China. Desde então, o território é administrado sob um acordo conhecido como "um país, dois sistemas", o que permite que seus habitantes desfrutem de direitos raramente vistos na China continental.
Muitas pessoas, no entanto, sentem que lentamente Pequim vai deixando o acordo de lado. Por isso, a cada aniversário da transferência da soberania a Pequim, os ativistas locais organizam grandes manifestações para exigir direitos democráticos, incluindo a possibilidade de escolher o Executivo local por sufrágio universal.
manifestantes usam guarda-chuvas e máscaras para se protegerem do gás disparado pelos policiais durante manifestação em Hong Kong, nesta segunda-feira (1º) — Foto: REUTERS/Tyrone Siu
Onda de protestos
Em anos recentes, os ativistas conseguiram mobilizar grandes multidões - incluindo uma ocupação de dois meses em 2014 -, mas não conseguiram qualquer concessão importante por parte de Pequim.
Os protestos deste ano, no entanto, acontecem após três semanas de manifestações contra o polêmico projeto de lei que permitiria a extradição de detidos em Hong Kong para processo na justiça da China continental.
A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, durante cerimônia pelo 22º aniversário da transferência do territória à China — Foto: REUTERS/Hong Kong Information Service Department
Embora o governo tenha abandonado a análise do polêmico texto, as manifestações prosseguiram. Recentemente, uma multidão tentou bloquear o quartel-general da polícia de Hong Kong em duas ocasiões.
No domingo, dezenas de milhares de simpatizantes do governo expressaram apoio à polícia, uma demonstração da brecha crescente que divide a sociedade de Hong Kong.
Entenda a polêmica:
- Ao contrário de outras regiões da China, Hong Kong, que até 1997 estava cedida ao Reino Unido, funciona sob o princípio de "um país, dois sistemas", com seu próprio sistema de leis e fronteiras e maior liberdade de expressão;
- Por isso, a região virou o destino de muitos migrantes e dissidentes que deixaram a China continental para fugir da pobreza ou da perseguição política;
- O projeto de lei apresentado em fevereiro, porém, abre brecha para que pessoas acusadas de crimes em Hong Kong possam ser extraditadas para o continente, uma medida vista com preocupação por diversos grupos, que veem nela uma potencial ameaça para as liberdades dos moradores da ilha.