Munhoz e Mariano estão sendo processados por darem uísque a um adolescente de 15 anos. Nas imagens divulgadas, os artistas fazem uma contagem em segundos mostrando o tempo em que a garrafa é virada e tem o líquido despejado direto na boca do rapaz.
A cena não é rara em shows sertanejos. Alguns artistas chamam algum fã para subir ao palco e viram a garrafa de bebida alcoólica na boca deles. Outros, vão passando pela primeira fila do público e distribuindo alguns goles do líquido.
Em fevereiro, durante um show de Gusttavo Lima, por exemplo, um fã passou mal depois de participar de um desses momentos nos palcos.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/N/6/ILKgdhTGeXLbZNV6vBTQ/shotsertanejo.jpg)
Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos — Foto: Reprodução/Instagram
Em imagens publicadas em sua própria rede social, o homem aparece recebendo a "virada de garrafa" ao longo de 10 segundos. Em seguida, confirma que "quer mais um pouquinho". E lá se vão outros 10 segundos. Até o momento em que Gusttavo diz: "Chega, senão depois vai sobrar pra mim". No mesmo vídeo, o fã aparece recebendo atendimento médico após a bebedeira no palco.
Há também alguns artistas que bebem sozinhos suas próprias "viradas de garrafa". Maiara e Maraísa aparecem com frequência bebendo e tomando banho direto do recipiente, além de distribuir copos de cerveja para os fãs.
Em entrevista ao g1, a psiquiatra Alessandra Diehl, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), explica que a rápida absorção de bebida alcoólica, como acontece nesses casos, faz com que o nosso organismo não tenha tempo suficiente de metabolizar o álcool ingerido.
"Isso propicia níveis de alcoolemia [quantidade de álcool no sangue] mais rápidos e, consequentemente, mais álcool em excesso circulando na corrente sanguínea", diz Alessandra.
Ela ainda afirma que a grande quantidade de álcool em contato rápido com sistema nervoso predispõe, com maior facilidade, a quadros clínicos de coma e morte por parada cardiorrespiratória.
Alessandra destaca que os riscos não param por aí: quedas, traumatismo craniano após queda, perda da consciência, maior vulnerabilidade a acidentes e a sofrer abuso sexual, além da diminuição da crítica, da capacidade volitiva, cognitiva, memória e atenção estão entre eles.
Vale lembrar que não é de hoje que o tema álcool e música sertaneja estão conectados. Em 2013, o g1 contou que o ritmo virou tema de trabalhos acadêmicos em áreas distintas como Letras, Psiquiatria e Artes, abordando a relação entre as letras do gênero musical e o consumo de álcool no Brasil.