Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos

Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos

21/09/2023 as 08:28

Munhoz e Mariano estão sendo processados por darem uísque a um adolescente de 15 anos. Nas imagens divulgadas, os artistas fazem uma contagem em segundos mostrando o tempo em que a garrafa é virada e tem o líquido despejado direto na boca do rapaz.

A cena não é rara em shows sertanejos. Alguns artistas chamam algum fã para subir ao palco e viram a garrafa de bebida alcoólica na boca deles. Outros, vão passando pela primeira fila do público e distribuindo alguns goles do líquido.

Em fevereiro, durante um show de Gusttavo Lima, por exemplo, um fã passou mal depois de participar de um desses momentos nos palcos.

Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos — Foto: Reprodução/Instagram

Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos — Foto: Reprodução/Instagram

Em imagens publicadas em sua própria rede social, o homem aparece recebendo a "virada de garrafa" ao longo de 10 segundos. Em seguida, confirma que "quer mais um pouquinho". E lá se vão outros 10 segundos. Até o momento em que Gusttavo diz: "Chega, senão depois vai sobrar pra mim". No mesmo vídeo, o fã aparece recebendo atendimento médico após a bebedeira no palco.

Há também alguns artistas que bebem sozinhos suas próprias "viradas de garrafa". Maiara e Maraísa aparecem com frequência bebendo e tomando banho direto do recipiente, além de distribuir copos de cerveja para os fãs.

Em entrevista ao g1, a psiquiatra Alessandra Diehl, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), explica que a rápida absorção de bebida alcoólica, como acontece nesses casos, faz com que o nosso organismo não tenha tempo suficiente de metabolizar o álcool ingerido.

"Isso propicia níveis de alcoolemia [quantidade de álcool no sangue] mais rápidos e, consequentemente, mais álcool em excesso circulando na corrente sanguínea", diz Alessandra.

Ela ainda afirma que a grande quantidade de álcool em contato rápido com sistema nervoso predispõe, com maior facilidade, a quadros clínicos de coma e morte por parada cardiorrespiratória.

Alessandra destaca que os riscos não param por aí: quedas, traumatismo craniano após queda, perda da consciência, maior vulnerabilidade a acidentes e a sofrer abuso sexual, além da diminuição da crítica, da capacidade volitiva, cognitiva, memória e atenção estão entre eles.

Vale lembrar que não é de hoje que o tema álcool e música sertaneja estão conectados. Em 2013, o g1 contou que o ritmo virou tema de trabalhos acadêmicos em áreas distintas como Letras, Psiquiatria e Artes, abordando a relação entre as letras do gênero musical e o consumo de álcool no Brasil.